Eleições, previsão de alta nos juros, novas cepas de Coronavírus que adiam o fim da pandemia. Como as perspectivas para 2022 impactam o mercado imobiliário?
2021 pode não ter sido o melhor dos anos para muitos brasileiros, mas alguns setores não têm do que se queixar. O mercado imobiliário é um deles. O segmento foi um dos que se recuperou mais rapidamente dos reflexos de dois anos de pandemia.
Alguns dados comprovam o bom momento. Em 2021, o Brasil bateu o recorde de concessões de novos empréstimos para a compra da casa própria por pessoas físicas. O financiamento imobiliário com recursos da poupança também cresceu. Foi 23,7% maior que o registrado no ano anterior. Somente no Rio de Janeiro, as vendas de imóveis aumentaram 12% em relação a 2020, alcançando a marca de R$ 99 bilhões em transações, segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio Janeiro (Ademi-RJ). Além disso, o setor da construção também registrou o maior crescimento nos últimos 10 anos, de acordo com estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O cenário favorável se deve, principalmente, a dois fatores. O primeiro deles é o distanciamento social em decorrência da pandemia do Novo Coronavírus. Obrigadas a passar compulsoriamente mais tempo em casa, as pessoas passaram a procurar imóveis que atendessem suas necessidades, movimentando o mercado.
O segundo se deve à Selic em baixa. De setembro de 2020 a março de 2021, a taxa — que representa a taxa básica de juros no Brasil — atingiu sua mínima histórica beirando os 2% e barateando o crédito imobiliário. Ficou mais fácil construir e comprar imóveis.
Mas, já no fim de 2021, as expectativas com a inflação e o cenário econômico fizeram com que os ventos mudassem, e a Taxa Selic encerrou o ano em 9,25%. Para 2022, a previsão dos especialistas é que ela gire em torno de 11,75%. Além da taxa básica de juros, outros eventos prometem movimentar o ano do mercado imobiliário. Copa e eleições são alguns deles. Sem contar a previsão de inflação alta.
Para os especialistas, o setor imobiliário passará com equilíbrio por 2022, mas o ano exigirá cautela. "O mercado imobiliário está em crescimento constante e se mostrou resiliente durante os últimos dois anos de pandemia. Mesmo com os desafios gerados pela Covid, o setor teve bons resultados, sobretudo na venda de casas e apartamentos. O setor de locação também se adaptou às mudanças, abrindo mais espaços para negociações e conversas entre locadores e locatários. Certamente, esperamos um cenário otimista em 2022, mesmo que isso demande cada vez mais atenção aos desafios e às necessidades do setor", avalia Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio) e diretor superintendente da APSA.
Quer se preparar para o que vem aí? Então confira seis tendências do mercado imobiliário para 2022:
Os empresários seguem confiantes. Uma pesquisa realizada pela Delloite com executivos do setor constatou que 90% deles pretendem continuar comprando terrenos e realizando lançamentos em 2022. Isso significa que os patamares de vendas devem se manter dentro das expectativas: "Cremos que não haverá recuo no ciclo de recuperação iniciado no final do ano de 2020 e com marcas latentes no decorrer de 2021. As últimas altas na Selic já eram esperadas pelo mercado, portanto a cadeia produtiva já tinha este cenário futuro nas suas projeções e planejamentos, lançando empreendimentos enquadrados com a realidade econômica que hoje vivemos. Provavelmente teremos um crescimento um pouco menor, mas dentro do esperado", confirma Marcelo Borges, diretor de Condomínio e Locação da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (ABADI).
Marcelo Borges, da ABADI, acredita que, provavelmente, teremos um crescimento um pouco menor em 2022, mas dentro do esperado
Financiamento mais longo
A taxa Selic na casa dos dois dígitos atinge em cheio quem pretende comprar imóveis a prazo, isso porque os bancos, geralmente, acabam repassando a alta para o consumidor. A matemática é simples: quanto maior a taxa de juros, mais caro é o financiamento.
Mas, para Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o desempenho da Selic não representará necessariamente parcelas de imóveis mais caras. "Historicamente, a Selic quase sempre esteve acima dos 10% e isso não impediu o crescimento do mercado imobiliário em diversos anos. É importante avaliar o financiamento sob a ótica do valor da parcela, até porque, atualmente, já é possível financiar um imóvel em até 40 anos para alguns casos. Portanto, é possível manter a parcela em um valor atrativo ao comprador independentemente da taxa de juros", destaca.
Demanda Alta
Um dado que ajudará a manter o mercado imobiliário aquecido ao longo de 2022 será a alta demanda por imóveis. "O Brasil possui um déficit habitacional que atinge, aproximadamente, 7,8 milhões de famílias e uma estrutura etária muito jovem. Isso implica em, ao menos, 1,1 milhão de novas famílias por ano. Trata-se de uma grande demanda que tem um público de baixa renda como principal consumidor", completa Luiz Antonio, da Abrainc.
Expectativa com as Eleições
Embora a realização de eleições não acarrete diretamente queda ou aumento no número de vendas de imóveis, é fato que o pleito acaba gerando ansiedade e expectativa no segmento.
A tendência é que o setor imobiliário fique atento especialmente a partir do segundo semestre. "O principal impacto em qualquer ano eleitoral está na economia, por conta das diversas e oscilantes especulações. Por certo todos os mercados, não só o imobiliário, ficam mais cautelosos aguardando uma consolidação de cenário e expectativas. Isso é normal e faz parte do calendário corporativo brasileiro", comenta Marcelo Borges, da Abadi.
Imóvel como investimento de segurança
Com a alta de juros, os investimentos de risco passam a afastar especialmente os investidores mais tradicionais. A tendência então é que os conservadores acabem optando por investimentos mais seguros, como o imóvel, visto historicamente no Brasil como uma reserva de valor.
Busca por imóveis mais confortáveis
A procura por imóveis funcionais que atendam às necessidades também de trabalho e contem com mais serviços compartilhados deve se manter mesmo com a superação da pandemia. "A procura por unidades maiores e mais confortáveis ganhou muita força porque as pessoas realmente estavam mais tempo em casa em home office com suas famílias e precisavam desse conforto. Vimos cidades da região serrana e de locais de praia, que antes eram requisitados apenas nas férias, sendo muito buscadas para negociações de imóveis residenciais. Acredito que, com o aumento do trabalho híbrido nas empresas, essa tendência por espaços que tragam mais qualidade de vida permaneça nas pessoas", finaliza Leonardo Schneider, do Secovi-Rio.
Com informações de Aline Duraes
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